segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Trios e grupais... da prática à teoria.

"Everybody´s got the fever. There is something you should know. Fever isn´t such a new thing. Fever started long ago." 

aaahhhhh... os trios! Eu acho trios excitantes. Eu acho trios transgressores. Trios me fazem questionar o porquê de, após tanta prática e discussão sobre liberdade sexual, ainda estarmos absolutamente limitados a experiências "do tipo a dois".

Afinal de contas, quem foi que disse que saímos de fábrica só com a habilidade de fazer a dois? O que impediria o exercício da sexualidade e da afetividade direcionadas a mais de uma pessoa? Já parou pra pensar como tomamos esta e tantas outras coisas como algo dado, algo "natural" e sequer pensamos que poderia ser diferente?

Eu tento pensar que SEMPRE pode ser diferente... se a gente quiser.   

Quando me questiono, realmente me causa certo espanto a "não abertura" a este tipo de interação. O pior é que, como a sexóloga Regina Navarro já dizia a partir de suas pesquisas, transar a três é algo que de certa forma faz parte do imaginário das pessoas (sem entrar aqui na discussão sobre a visão tradicionalmente machista de um homem "pegando" duas mulheres). Então não deveria ser encarado como algo tão "anti-natural", abjeto.
No tabuleiro das paixões, nós adultos poderíamos andar várias casas a mais.
Eu fico pensando até que ponto as pessoas (e me incluo aqui inclusive) têm medo e/ou preguiça de experimentações e variações no campo sexual. A Manú, aquela minha amiga #esquerda_transante, acha que dou valor demais ao sexo, que na prática as pessoas têm milhares de outras preocupações e não o colocam no centro da vida delas. Pode ser mesmo... mas pra mim a vida fica tão mais sem graça (e olha que eu não deixo de fazer todas as outras coisas que adultos em grandes cidades precisam fazer pra sobreviver)... como já dizia Rita Lee: lá embaixo, o mundo cruel é tão chatinho...

Bom, mas hoje eu quero mesmo é escrever sobre minhas referências pop de trios e sexo "além de dois". São referências que povoam minha mente e estabelecem deliciosas conexões com minha vida sexual.

Trios e grupos: referências pop.

Fico honrado de ter em Madonna minha primeira "visão" de trios, ainda que na época não fosse algo compreendido como é hoje.

Minha primeira lembrança está na icônica coreografia de Like a Virgin no documentário Na Cama com Madonna. Nem precisa dizer que sentia vontade de fazer aquela dança sensualizada, lasciva, provocativa (em dado momento do refrão o bailarino Luis Camacho encara a platéia com um olhar provocativo e transgressor que sempre me chamava a atenção). Como muitos adolescentes gays (que ainda não sabiam exatamente que eram gays), ver esse filme trouxe um baita impacto na percepção da minha própria orientação [e identidade] sexual.

Naquele número musical, Madonna interage com seus dançarinos como se fossem uma espécie de criados sexuais. Talvez ali a dimensão sexual não ficasse tão clara, predominava um aspecto de mando e obediência (e essa devia ser mesmo a intenção, pois foi naquela turnê que Madonna passou a ocupar a posição de Rainha do Pop - não por menos, o nome da turnê era Blond Ambition). 


Essa percepção muda na turnê seguinte, a teatral e burlesca The Girlie Show, onde Fever arrebenta com qualquer visão conservadora do sexo. E não poderia ser diferente, depois da entrada triunfal de Erótica. Eu fiquei absolutamente fascinado por essa coreografia, também extremamente sensual e lasciva. Aqui apesar de também haver uma condução por Madonna, a dimensão sexual fica bem mais evidente.

Gostava de ver Madonna praticamente "avançando" pra cima dos bailarinos e se atracando com eles (como na cena abaixo, em que ela encaixa suas pernas nos ombros de um deles e rebola...). No meu imaginário de adolescente e depois de jovem, fantasiei por anos fazer performance semelhante naquelas gincanas animadas da escola (e imaginando o mais absoluto espanto de pais e professores rs... pode isso?).


A persona pública de Madonna é realmente a de uma mulher muito poderosa. Mas poderosa no sentido de exercer seus desejos sem ressalvas. E ao fazer isso, ela nos inspira a fazer o mesmo. "Pobre o homem cujos prazeres dependem da permissão de outros", já dizia ela no clip de Justify my Love. Na época do lançamento de SEX eu ainda era "de menor" e o mundo ainda não era conectado o bastante para que eu pudesse ter acesso ao livro... então, por incrível que pareça, eu nunca o li... ta aí algo que ainda preciso fazer e quem sabe surja um post futuramente sobre esse livro. 



Antes de Fever porém, houve ainda uma 2ª referência importante pra mim na mesma época de Like a Virgin. Prince com suas Diamond & Pearl no clip de Gett off, uma típica dança de acasalamento! Já escrevi em post anterior sobre essa canção, que fala de experimentações (a little box with a mirror and a tongue inside) e um cara confiante em poder satisfazer uma mulher que não anda lá muito feliz...(There's a rumor goin' all round that you ain’t been gettin' served (...) Lemme show you baby I'm a talented boy). Quero um dia ser tão confiante como Prince, seja numa transa a dois, a três ou numa coletiva! E que cara é esse, capaz de 23 positions in a one night stand! #passado...


Para além destas três referências iniciais no campo musical, há um filme que marcou muito, mas muito, minha adolescência: Threesome, traduzido no Brasil como Três formas de amar. Josh Charles talvez tenha sido minha primeira paixão platônica adolescente. Eu o achava (e ainda acho, vendo The Good Wife) lindo, sensível, doce. Me identificava com ele e com os dilemas de seu personagem. 

Assistir este filme me fez sentir de forma mais concreta a vontade de viver um amor e de estar junto a outro homem (e não a uma mulher). Aliado a isso, a dimensão "a três" dava um charme todo especial ao filme. Reparem inclusive na certa abertura do personagem HT do Baldwin para vivenciar tal história, sem que isso significasse um questionamento da sua identidade hétero, bastante demarcada. 

Pena que teve um desfecho tão moralista (não poderia esperar outra coisa da moral puritana americana, ainda mais no começo dos anos 90). Mas o filme ousou ao abordar o assunto de forma leve, divertida e factível - colocando um romance a três no mesmo patamar de outras tantas loucuras, traquinagens e experimentações dos anos de faculdade. 

Boyle, Baldwin & Charles

Por fim, mas não menos importante... o glorisoso trio feminino Ciconne, Aguillera & Spears em outra apresentação absolutamente baphônica no MTV Awards de 2003. Sério que chocou? Pior que sim. A cara do Timberlake foi ótima. Esses americanos, viu... caíram de pau na princesinha Britney acusando-a de ter "virado" lésbica. Quanta pobreza de espírito... não conseguem distinguir vida real de performance? Já deveriam estar acostumados com as ousadias da Rainha do Pop!



Eu em 2003 já tinha minha sexualidade consolidada e minha identidade gay muito bem definida. E me lembro da excitação que senti ao ver esse número, desde a entrada triunfal de Madonna sob aplausos efusivos da platéia até seus beijos ousados nas duas fedelhas. Sim, trios são mesmo transgressores! 

E por falar em Britney, vamos também trazer aqui um dos meus clips prediletos de todos os tempos! I'm A slave 4U


Não gente... pára que eu vou enfartar... A atmosfera desse clip é quente demais... todos suados, sensuais, dançando com seus corpos próximos uns dos outros, suspirando, gemendo... como eu queria estar ali também me deliciando. E a coreografia é realmente primorosa, intensa, vigorosa! Engraçado que anos mais tarde ela lançaria a música 3, mas não me convenceu nem um pouco. Passou muito longe de Slave 4U e soou um pouco forçado inclusive.


Slave 4U me fez lembrar de outras referências "surubísticas" da própria Madonna... dois momentos em especial me vieram à mente. O 1º na The Girlie Show, na transição de Deeper and Deeper para Why´s it so hard? De repente todo mundo começa a se pegar, se agarrar, uma gemeção sem fim... você não sabe mais quem é quem, de quem é aquela mão, aquele pé... e por aí vai...


Outra surubinha beeeem mais leve e chic se passa nas apresentações de Hung Up durante o lançamento e turnê de Confessions on a dance floor. Madonna um pouco mais comportada, mas tão sexy quanto.


Em relação a sexo grupal, cabe ainda uma reflexão mais profunda sobre o significado, dimensão e consequências. A dinâmica do sexo a três já me é mais familiar, mas nos grupais, apenas uma vez por enquanto (história a ser relatada aqui em breve - mas já adianto não ser nada muito excepcional). Ops... peraê... beijo a 4 na balada conta? #na_dúvida

Essa foi minha colcha de retalhos pop para trios e grupais! Uma senhora seleção, modéstia à parte. Melhor acompanhado? Impossível! O pop pode ser inspirador, criativo, incômodo até... Pode nos mostrar novas portas que nem sabíamos que eram portas, mas que estavam ali, prontas para serem abertas. Cabe a você girar chave e abri-las...

No mais, só posso dizer: Vida longa e ampla aos Threesomes e aos Grupais, abençoados pelas melhores inspirações do autêntico pop!


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