terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Pensamentos na balada parte II - Sábado

E sábado foi dia de The Week, logo na sequência de um aniversário de outro amigo querido nosso!

Batidão...

Não foi um dia de Epifania, como em outra ocasião, mas ali me vieram alguns insights interessantes.

O 1o veio de um encontro com o Pedro. Pedro é um curitibano quase-cinquentão lindo, lindo, sorridente, cabelo grisalho, voz mansa e muito gente boa. Tem uma história super interessante, foi casado com uma mulher por vários anos, tem dois filhos adultos, mas ali pelos trinta e poucos se separou e saiu do armário. Namorou um cara por uns 12 anos, sendo que nos últimos anos tinham uma relação aberta que parecia bastante equilibrada. Pode ser considerado um ótimo representante dos tais D.I.L.F.s (em breve teremos um post sobre isso, aguardem).


De uns anos pra cá Pedro é figurinha frequente no circuito gay de festas RJ-SP-BSB-Floripa, sempre se divertindo bastante com seus amigos, que o adoram! Muito legal isso de, já mais velho, vc voltar às baladas num outro formato, em um outro momento de vida e com uma cabeça diferente da que quando era universitário e tinha 20 anos. 

Pedro passou um período solteiro e de uns tempos pra cá eu o estava vendo com mais frequência na The Week, sempre acompanhado de outro cara. Isso foi evoluindo durante uns meses, até que eles oficializaram o namoro, com direito a posts apaixonados, fotos e mudança de status nas redes sociais. 

Eu não quero soar preconceituoso, mas não vou deixar este risco me impedir de escrever o que quero. Eu, sinceramente, acho o Pedro muito lindo e o namorado dele muito feio e meio desengonçado. Sabe quando destoa? 

Mas por que eu estou dizendo isso? (e dessa maneira meio tosca) Por que parece algo que o Pedro nem leva em conta, não se importa sobre o que os outros irão achar (e certamente devem rolar comentários maldosos), se destoa ou não destoa, se ele é muito mais lindo, gato e charmoso do que o boy dele. E que bom que é assim, que outras qualidades do cara lhe agradaram a ponto de ele querer namorar, eles estão sempre juntos na balada e fora também, curtindo a dois. 

Quando nos encontramos, eu brinquei com ele: que legal, agora te vejo direto aqui! Ele encheu a boca pra falar e me respondeu com alegria: aaaahhh, é que eu tô namorando!

Gente, posso ser sincero? Eu conheci um cara há uns anos e a gente se deu muito, muito bem sexualmente. Está no meu Top 3 de melhores trepadas da vida. Mas eu achava ele muito feio, um pouco esquisito e eu sei que foi por causa disso que eu nunca sequer cogitei a possibilidade de namora-lo ou de estreitar laços. E olha que eu tinha um prazer descomunal com ele e ele mandava muito bem na cama (além de ser um cara gente boa e super confiável).

Bom, e não é que o Paulo me acompanhou no sábado também? Assim minha cabeça dá nó... (e a de quem lê aqui também, hahaha). Paulo foi comigo no aniversário e depois pra balada. Só que aconteceu exatamente a mesma coisa da 6a feira. Ele ficou na dele enquanto dançávamos na pista... eu percebi e não me fiz de rogado quando um boy veio falar comigo e me tascou um beijo de língua quente e forte. 

Confesso que beijei mais pra fazer ceninha e mostrar que sim, eu posso ser super atencioso e [com ele], mas não me custa muito tocar o terror e incendiar Roma [sem ele].

Pois dito e feito. O boy saiu pra ir ao banheiro e meus amigos quiseram subir ao camarote... a partir daí ele já se aproximou e se comportou como um ficante meu da noite [e nem ficou com ninguém além de mim].  

Bom, a balada estava rolando e eu já cansado... depois daquela conversa um pouco tensa com meu pai, eu tenho evitado tomar químicos de qualquer tipo, a conversa ainda está ecoando na minha cabeça e no meu coração. O problema é que isso dificulta um pouco curtir a balada, eu já não tenho vinte aninhos, então é um desafio encontrar estratégias pra não se sentir cansado. 

Um energético com vodka me segurou bem por umas 3 horas, mas aí realmente não deu mais. Daí decidir ir embora. Me despedi do Paulo e, pra minha surpresa, ele decidiu ir embora também, comigo. 

Saímos ali do grupinho em que estávamos e ao cruzar a pista lotada de homens lascivos eis que me deparo com uma senhorinha que certamente tinha mais de 60 anos, cabelo curto grisalho. Não sei o nome dela mas vou chamá-la aqui de Dona Domingas.

Dona Domingas - baladeira na The Week

Gente, eu sou super tímido pra abordar pessoas que não conheço, mas eu achei tão incrível ver aquela senhora que não resisti e parei pra conversar. Perguntei se ela estava lá pra dançar (pergunta mais óbvia né? #peloamor...) e ela disse que sim, até me respondeu um pouco na brincadeira (pela obviedade da pergunta - mas eu juro que fui super espontâneo, hehehe). 

Dona Domingas me disse que gostava de ir lá para se divertir, que ela gosta de se divertir e brincava dizendo que os amigos dela só podiam ir embora da balada depois que ela fosse. O Paulo estava junto, tão cansado quanto eu, então acabei não ficando muito lá, mas sinceramente espero encontrá-la lá em um dos próximos finais de semana e continuar a conversa. 

Eu acho que isso me chamou a atenção em especial por ter visto uns dias antes uma reportagem relatando a cruel situação de idosos gays que, sem terem como contar com o apoio da família, vão para asilos e casas de repouso, são praticamente obrigados a entrar no armário novamente e a não revelar sua orientação sexual pelo receio de sofrerem represálias - não somente por parte dos demais moradores mas também por parte de funcionários. 

Essa senhora me fez um bom contraponto à reportagem triste e devastadora e, assim como o Pedro, que não se importa se o namorado dele é mais feio do que ele, a senhorinha também não estava nem aí se ela não se "encaixava" no perfil tradicional de quem vai à The Week

Novamente, não me entendam mal. Eu, sinceramente, acho a The Week um lugar relativamente democrático, eu mesmo não me encaixo no perfil barbie sarada, mas estou lá direto dançando sem camisa, feliz da vida, e fazendo [quase] tudo que tenho vontade... e vejo muita gente que não tem 6-pack e isso nunca foi motivo pra não tirar a camisa e, quer saber, ninguém está nem aí, até porque em parte São Paulo facilita e valoriza esse anonimato e esse "não se importar" com a vida alheia.

Eu quero justamente ressaltar essa liberdade que os dois tiveram em romper estereótipos e em não deixar que uma suposta sensação de inferioridade ou de não-pertencimento os impedisse de fazer algo que queriam e que lhes dava prazer. 

E quantas vezes nós já deixamos de fazer algo por ter esse tipo de sentimento? Eu, várias.

Por fim...a noite terminou de forma "bunitinha"... uma cena doce minha e do Paulo. Eu não sei como, mas apps como Uber e Cabify simplesmente não funcionam nas proximidades da balada. Vc precisa ir pra rua de cima e aí os carros já ficam disponíveis. 

Ficamos numa esquina esperando alguns minutos. Eu sentei num banco improvisado que tinha ali e o Paulo se sentou no chão da calçada, se aninhou na minha perna, virou a cabeça e veio me beijar.


Juro... me derreti com algo que pra mim soava tão carinhoso...

Ele apoiava as costas na minha perna e eu o abraçava... ficamos ali, nos beijando devagar, sem pressa, um beijo por um beijo (diferente daquele beijo que é a introdução de uma transa. só agora me dei conta dessa diferença entre os beijos... mais um insight hahahahaha).

Os dois, cansados, desmaiaram no táxi, ele ficou em casa e eu segui pra minha. Nenhuma menção à possibilidade de transar e eu acho libertador vc ter a opção de terminar seu fim de noite em casa, sozinho, deitado na cama para dormir e descansar. Sexo pode ficar pra outra hora, não precisa ser roteiro obrigatório de fim de noite.

Eu inclusive acho que a qualidade piora (salvo naquelas ocasiões onde o tesão tá batendo muito forte). Pra mim tem de ser algo muito promissor que me faça abandonar aquele momento mágico em que vc chega da balada, come algo gostoso, toma um banho morno e cai na cama.


Essa situação com o Paulo tá me incomodando um pouco... eu mudei a expectativa que tinha anteriormente, passei a querer mais (e diferentes) momentos com ele, então a chance de frustração aumentaria mesmo.

O Mário, como sempre, é meu fiel confidente e psicólogo... ele acha que o Paulo curte minha companhia, mas não quer romance e não vai se esforçar pra nada além do que já existe. 

Simples assim [mas quem disse que a gente enxerga o simples, né?].

Minha primeira ideia nessas horas é romper contato, não ligar mais, não chamar mais pra nada... mas isso não seria uma atitude meio infantil, daquelas crianças que, quando contrariadas, levam a bola embora da brincadeira? Típica reação narcísica, não?

Vc não aguentaria conviver com a situação que não é a que vc queria, mas que ainda sim pode ser legal? Por que não desfrutar destes poucos e bons momentos quando vcs estão juntos, sem fazer idealizações? Consegue segurar a expectativa?

Sinceramente, não sei se quero e não sei se consigo. Não preciso também ficar buscando a essa altura situações de sofrimento, tortura e provação, isso aqui nem é reality show, nem período da quaresma com penitência.


Eu fico todo arrazadinho porque isso está acontecendo comigo, reclamo das coisas, mas eu já estive nessa exata situação com outras pessoas, exatamente assim - só que do outro lado...

Então não é nada pessoal, são processos que acontecem, a gente se melindra, e aí nosso Superego dá um jeito de nos dar um tapinha na cara e nos lembrar que a gente não tem nada de especial pra supor que isso não poderia ou não deveria nos acontecer - como se a gente tivesse algum privilégio em relação aos outros 'pobres mortais'.

E assim a vida vai seguindo, a gente sofre com as situações, mas mais importante até do que não sofrer (até porque é muito difícil controlar isso - sofrimento e a frustração são certezas nessa vida) é aprender a lidar com esse sofrimento, superá-lo e tirar proveito disso para o próprio amadurecimento.

Vou fechar o texto de maneira rasa, mencionando o tal 'imperativo categórico' da filosofia de Kant, que mais ou menos fala assim: quando agir, aja como se a tua ação devesse ser considerada uma regra universal a ser seguida por todas as demais pessoas.

Se eu estou sofrendo por algo que "me fizeram", talvez devesse pensar mais quando estiver do outro lado da história fazendo algo semelhante, ou seja, ainda que eu esteja mais atento à comunicação das intenções [já falamos sobre isso em dois posts intitulados Comunicação e expectativas parte I e parte II], talvez seja o caso de ser um pouco mais cuidadoso nas relações. Talvez 'apenas' comunicar bem e de forma objetiva não seja o bastante nesse tabuleiro cheio de sexo, paixão e amor.

Ter cuidado com as pessoas pode ir bem mais além do que simplesmente comunicar suas intenções. Pode significar inclusive não fazer algo, ainda que com o desejo e o consentimento alheio.

A pensar... 

Um comentário:

  1. Arrassou nas conclusões de Pedro e o Boy-dito feio. Até porque, segue chavão, Beleza-feiura são relativas. Um amigo meu V. tem muito tesão por homens com a cara cheia de marcas de espinhas ! Simplesmente adora ! Sim beleza importa bem menos com o passar do tempo. Pedro, 40tão ou até 50tão já entendeu isso.
    bjs
    NT

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