quinta-feira, 27 de julho de 2017

O silêncio nem sempre resolve...

E que dureza acordar no meio da noite com uma puta ansiedade no estômago e com um incômodo que vc sabe muito bem de onde vem...

Ando percebendo que uso o silêncio como forma de punir quem me magoa. 



Primeiro: será esta a melhor forma de resolver as coisas?

Segundo: será que isso não acaba se voltando contra mim?

Nos motivos mais imediatos da ação vem de fato o desejo de punição, consequência direta do orgulho. Mas se explorar melhor, eu vejo que há também um instinto de defesa em não querer se deparar com algo tão dolorido.

Vou usar duas das minhas histórias para relatar isso. André e Asher

Leitores: ai HS, de novo essa história do André... que ladainha hein? muda o disco dessa vitrola... 

Eu: Puxa gente... só um pouco de paciência, garanto que vale a pena registrar aqui mais esse aprendizado, que só amadureceu agora pra mim, hehe.

Após nosso último encontro no Rio, o André queria conversar comigo, mas eu não quis e encerrei o papo de forma ríspida. Eu me sentia muito magoado, ferido, puto com o que ele havia feito e achava que conversar sobre o que havia se passado só iria me trazer ainda mais dor (além de não mudar nada). E havia um risco imenso de eu ser estúpido com ele (e disso eu já sabia que me arrependeria). 

O problema dessa "estratégia" é que você fica com um monte de coisas que queria dizer pra pessoa (que não tem forma de adivinhar isso a não ser que você diga pra ela) e ainda perde a chance de perguntar algo que queira. E a história, que poderia ser finalizada de forma mais saudável, fica te perturbando com ares de unfinished business.


Eu perdi a chance de dizer coisas importantes pro André e nem acho que ele saiba dessas coisas. 

Com o Asher, história mais recente, o movimento foi o mesmo.

Ele não me retornou como prometido e eu "concluí" que minha resposta "só poderia ser" a mesma: silêncio. E ainda usei a música como uma resposta "indireta" e dúbia. Uma quase-provocação.

Que feio! Que bosta! Que imaturo da minha parte! (mas é incrível como na hora a gente simplesmente não consegue pensar dessa forma mais racional. Ficamos 100% emoção).

Recebi outra música de volta, sem nenhuma explicação adicional e isso me deixou ainda pior do que já estava. E claro, nós fazemos a interpretação que é possível (independente de estar certa ou não).


De novo, perdi a oportunidade de dizer coisas e também de ouvir dele.

Talvez ouvir algo que não se queira seja melhor do que não ouvir nada e ficar criando hipóteses na sua cabeça (as quais quase nunca correspondem à realidade).

Acho que no caso do Asher eu também já perdi o timming. Eu quase escrevi pra ele no sábado à noite, logo depois que ele respondeu meu post com a música da Lana. Caralho, por que não fiz isso? Por que? Teria sido tão melhor, a gente teria feito um término decente, sim ia ser super dolorido, mas ia ter fechado o ciclo e seria mais fácil seguir em frente. 

Ou talvez ainda valha a pena escrever uma breve msg... vou pensar...

[pausa pro almoço]

De volta.

Criei coragem, fui lá no fundo da minha alma, escrevi uma msg e enviei pra ele. Tentei ser equilibrado, suave, e ao mesmo tempo dizer do que concluí pelo silêncio inicial dele e depois pela música recebida. Ficou uma msg grande e bem escrita.

Falei de todo o meu sentimento mas que era hora de não mais alimentar expectativas realistas. Agradeci pelos momentos incríveis vividos e disse que estaria aqui por ele sempre que precisasse. 

Vcs não tem idéia de como me senti mais leve... Uma paz imensa invadiu minha alma. Eu consegui dizer tudo o que gostaria pra ele, de forma equilibrada, sem dureza. 

Que bom poder se permitir ser vulnerável, falar dos seus sentimentos (ainda que não tenha reciprocidade da outra parte). Não deixa de ser um baita exercício de humildade e isso me faz muito bem! Me posicionei e mesmo que ele não me respondesse, eu teria a tranquilidade de não ter deixado nada em aberto.

Mas ele respondeu... e cadê a coragem pra ler? hahahahahaha

Bom, depois de procrastinar e abrir a msg com um puta frio na barriga... ele se disse muito surpreso com a msg, que simplesmente havia se esquecido de me escrever e que havia tido um final de semana muito ocuprado com a família. Disse por fim que não há nenhuma outra pessoa na vida dele e que apenas tinha mandado uma música da qual gostava, sem atinar para o teor da letra.

Meu querido leitor do blog, vc consegue se dar conta das confusões criadas por uma comunicação truncada? Ou pela falta dela? Consegue perceber?

Consegue ver como podemos tirar conclusões que não tem absolutamente nenhum lastro com a realidade? De uma música enviada de forma espontânea, eu fui capaz de construir toda uma narrativa [bom, mas vamos dar um descontinho pra mim... vcs também fariam isso se recebessem uma música que dizia, de forma literal: "my boyfriend´s back and he´s cooler than ever".]

Vendo a resposta do Asher, eu avalio que minha msg foi um pouco estruturada demais, analítica demais, detalhada demais... um pouco dramática demais, hahaha... acho que o estilo de comunicação dele é bem diferente, mais cru, seco, sem muita firula.

De qualquer forma, ficou pra mim claro que eu estou dando mais importância a esta história do que ele. Precisei de algumas evidências pra poder "acreditar" e esse esquecimento (e o fato de ele considerar isso uma coisa normal) foi a prova definitiva.

Eu respondi mais objetivamente, me desculpando pela sensação ruim causada pela msg. Entendia o que havia acontecido mas que o silêncio dele tinha me deixado ansioso. Expliquei a conclusão sobre a letra da música e brinquei um pouco falando que já via essa música sendo remixada pelo nosso DJ predileto. De qq forma, precisava dizer a ele como tinha me sentido e que agora eu estava em paz.

Ele respondeu com um:

Definitivamente, gostaria de ele escrevesse mais pra mim, que se comunicasse com mais frequência. Mas paciência, não vai rolar da forma que eu quero.

Agora uma coisa é certa: escrever esse email e me libertar de expectativas realistas me trouxe paz e uma sensação incrível de liberdade, por não ficar mais dependendo e aguardando ansiosamente uma resposta. Acho que agora me dei conta de uma vez por todas que esta história não vai rolar, que tenho de ser grato pelo que aconteceu e seguir a vida (ainda que troque msgs eventuais com ele - sem que isso mexa comigo).

Pra fechar o post, essa semana aconteceu ainda um 3º episódio que ilustra a tese inicial deste post. Meu pai me ligou e falou que estava preocupado comigo, que eu andava muito quieto, em silêncio, sem falar da minha vida e do meu trabalho (que sempre tem uma novidade, uma viagem...).


Eu expliquei algumas coisas, falei de algumas dificuldades minhas pra tomada de decisão, da angústia que sentia no atual momento.

HS: então pai, isso eu tô te falando pra vc entender um pouco mais como eu funciono e não ficar preocupado.
Pai: Meu filho, você não tem idéia do quanto eu te conheço.

Achei incrível essa afirmativa dele, feita com muita segurança e tranquilidade. E me senti seguro para falar da história do Asher (não todos os detalhes, claro, hehe), de como eu estava vivendo um momento de "fossa". Eu NUNCA havia falado pro meu pai sobre uma história romântica minha, nunca me senti à vontade pra isso nem achei que ele tivesse algum interesse em saber (apesar de já ter contado pra ele que era gay há mais de dez anos).

Olha, foi muito interessante e ele me acolheu. Do jeito super pragmático dele, com mais de 70 anos de idade, mas me acolheu hehehe... Assim que terminei de descrever a história ele emendou, categórico:

Pai: Paixão. Isso não dura mais do que 2 anos.
HS: ah pai, mas é tão bom. A gente se sente vivo. Sente saindo borboletas do estômago.
Pai: vc "acha" que sente... quando vai ver são lagartas.
HS: hahahahaha.

Me deu vontade de falar mais com ele sobre minha vida afetiva e acho que ainda teremos oportunidades para tanto. Ele me passou uma msg de esperança de que uma hora a gente encontra alguém bacana pra ficar.

Bora então deixar o passado onde ele tem de ficar - no passado. Pro novo nascer, o velho precisa morrer. 

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