segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A vida dos outros

O insight para escrever esse texto veio após assistir no youtube a esta excelente campanha da Latam destinado ao público corporativo (detalhe: acho a empresa muito careira e, desde a fusão,  bem menos consumer-friendly... mas essa campanha, em especial, ganhou meu coração).


Um bate-bola feito pelo Dan Stulbach com Renato Camargo, head de fidelidade do Grupo Pão de Açúcar.

Eu bati o olho no vídeo (daqueles que o youtube te ‘obriga’ a assistir antes dos que você seleciona) e imediatamente achei ele lindo e muito interessante. Uma postura máscula, decidida, risada certeira, aquele sotaque paulistano charmosíssimo, perfil slim, moreno com uma leve barba crescida. Um cara que parece saber muito bem o que quer e para onde está indo.


Claro... vááááárias transferências contidas nessa minha conexão imediata com ele (eu nem o conhecia até então e nem faço idéia da sua orientação).

Qualidades masculinas que vejo nele e que gostaria de ver em mim. Algumas delas eu até vejo, mas não ando passando pelo melhor momento profissional e pessoal e acho que isso faz com que a vida dos outros pareça muito melhor do que a minha e que me veja um pouco diminuído nestas tais qualidades masculinas (que não são exclusivamente masculinas, podem e caem muito bem em mulheres também).

Ele parecia estar muito confortável na carreira. Tinha respostas inteligentes para as perguntas capciosas que lhe eram feitas. Viaja bastante (coisa que eu também gosto de fazer, mesmo que profissionalmente). Mostrava uma alegria imensa e uma garra em relação ao trabalho. Parecia ter um futuro muito bem traçado e uma vida profissional bastante estruturada (o que significa maior probabilidade de saltos ainda maiores e novos desafios).


Eu, do outro lado, ando num momento de estagnação e insatisfação profissional. Tem me faltado prazer no trabalho, uma motivação maior; aquela nos faz acordar todos os dias com mais disposição. Não tenho visto sentido no meu atual trabalho nem visão de futuro. Ainda estou um tanto quanto perdido e desanimado para buscar soluções fora da zona de conforto.

Mas o ponto que me captou inicialmente foi o seguinte.

Quando o via no vídeo, pensei comigo: “nossa, poderia facilmente me apaixonar por esse cara e seria incrível namora-lo” (o fato de não haver uma aliança em qualquer uma das mãos foi um salvo-conduto para me permitir a fantasia, hehe). Instantaneamente me imaginei no apartamento dele, nós deitados na cama dele, numa tarde de domingo, assistindo grudados alguma série da netflix.

Um cara com uma carreira tão estruturada – como se envolver e desenvolver um relacionamento com alguém assim? Eu concluí que a única maneira seria abdicando da minha vida para poder fazer parte da dele.

Óh céus... será que isso é muita piração da minha cabeça?


Claro, são especulações... mas se a imagem que construí a partir da entrevista for correta, trata-se de alguém que tem o 1º, 2º e 3º focos na carreira e uma relação somente seria possível caso esse foco não estivesse ameaçado. O parceiro teria dificuldades em trazer e agregar o seu mundo a outro mundo já tão estruturado, onde não há espaço para novos projetos.

Daí pensei: “será que eu me disporia a abdicar de projetos pessoais e profissionais meus para estar com outra pessoa num relacionamento?” Toparia trocar de trabalho, mudar de cidade, de país ou, pior, estar numa relação sabendo que meus projetos não são os prioritários do casal e que o outro não irá abrir mão dos dele caso seja necessário?

Nos meus últimos namoros, de certa forma, foram os meus namorados que se adaptaram à minha rotina, até porque eu morava sozinho (eles não), então era mais flexível e fácil quando eles estavam na minha casa. Os pais deles não sabiam à época que eles eram gays, então eu quase nem frequentava as casas. Eu morava numa região mais central e não tinha carro (eles tinham), então era mais fácil pra eles me encontrarem ou me buscarem.

Não vou me comprometer com uma resposta objetiva, até porque estamos falando de maneira hipotética; não há nesse momento uma situação específica que me demande uma decisão instantânea. Mas me imaginar em um contexto como esse me causou inicialmente certo desconforto.

Há algum tempo atrás, provavelmente eu seria bem mais taxativo e dissesse de antemão que jamais faria algo assim. Até pela percepção familiar de que aconteceu algo parecido com minha mãe (que teve de ‘abandonar’ a carreira no magistério para ‘criar’ os filhos) e eu não gostaria de repetir isso.

Eu tendia a ver as coisas de maneira mais maniqueísta (nada que alguns anos de análise não ajudassem a melhorar), inclusive na primeira vez que abordei esse tema aqui, em um texto chamado Parceiros egoístas e a renúncia. (tudo bem que ali havia uma situação a justificar a abordagem).


Mas hoje, pensando de forma mais ampla e sem me atrelar a esse gatilho emocional familiar, acho que poderia ponderar e avaliar a possibilidade. Não abortaria de cara um romance por causa disso. E a maneira como o parceiro encara isso também faria toda a diferença. Alguma compensação ou rearranjo sempre é possível para acomodar possíveis renúncias.

Tentar não pensar as situações de maneira maniqueísta também ajuda bastante, pois pressupõe que há um mínimo de sensibilidade e empatia do parceiro ao perceber a situação. Se eu tenho sensibilidade mínima pra lidar com essa situação, por que a pessoa com quem escolhi estar também não poderia ter?


Por fim, não queria que o texto fosse finalizado com um certo ar fatalista e derrotista. Por mais difícil que as coisas possam ser, eu continuo a acreditar no poder transformador e curativo do amor. Ele pode nem sempre vencer [ou 'quase nunca', diriam os mais céticos], mas é uma força que sem dúvida não deve ser ignorada.

E você? Como reagiria? Pensa da mesma forma ou de maneira completamente diferente? Compartilha comigo suas histórias e opiniões!

Bjs no coração!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Preferências

Pera, uva, maça, salada mista
Diz o que você quer
Sem eu dar nenhuma pista
(Xuxa, Salada Mista)

Esse mundo dos solteiros na constante busca de bons encontros tem seus perrengues, claro. 

Como diz meu sábio pai: 'vocês vêem as pingas que eu tomo, mas não vêem os tombos que eu levo!'

Os últimos encontros que tive me ajudaram a formular uma constatação que é importante ser 'martelada' na minha cabeça (pois fala de algo que me soa como verdade), mas ao mesmo tempo me traz angústia.

O fato é que não precisa muito tempo de vida sexual pra gente se dar conta de algumas preferências, gostos, estilos... coisas que nos agradam e coisas que não nos mobilizam.


Às vezes você conhece um cara legal, a transa é boa... mas não rola aquela vontade de ligar no dia seguinte. E não há nenhum motivo aparente para isso (ao contrário de outras situações onde você percebe claramente que não curtiu e não tem qualquer dúvida sobre isso). Me parece que o "conjunto" da pessoa não te agrada a ponto de você querer repetir.


Essa semana conheci um cara muito gente boa, uma graça, sorriso lindo... e nossa conversa foi boa, a transa incrivelmente boa (senti um prazer descomunal)... e com ele, eu claramente fiquei com vontade de ligar no dia seguinte e de convidar pra um segundo encontro. 

Diferente de um cara com quem fiquei há uns 15 dias numa festa. Ficada ótima, conversa boa, pegada boa, beijo bom... mas não deu vontade de ligar no dia seguinte. Simplesmente não deu. 

Essas vontades parecem super intuitivas e espontâneas. Ou elas se manifestam, ou não se manifestam, não tem meio termo e não adianta brigar ou se incomodar quando não surgirem. Não está sob nosso controle. 

Eu me percebi incomodado com essa situação, de aparentemente não haver nada que desabonasse o cara mas ainda assim você não estar a fim de ligar: 'porra, será que o problema sou eu?' pensei.


Estou tentando me conscientizar de que isso deveria ser encarado como algo natural. A probabilidade de desencontros e incompatibilidades é maior [infelizmente]. 

Então, nesse tal mundo dos solteiros na constante busca de bons encontros você terá muito mais desencontros do que encontros. Muito mais 1as fodas e muito menos 2as, 3as e 4as fodas (com a mesma pessoa). Tente encarar isso como algo natural e modele sua expectativa a partir daí.

Afinal, ninguém te prometeu que a felicidade viria fácil e na primeira vez de cara [se prometeu, sinto informar, mentiram pra você].